Eu não consigo pensar em um gesto de aproximação e ternura com a minha afilhada.
Ás vezes penso, ela poderia ter uma madrinha querida, paciente, doce, tudo o que eu não sou. Poderia ter uma madrinha presente, coisa que eu nunca vou conseguir ser. O que mais me dói é que ela não tem culpa. É uma criança. Eu sou culpada, eu gostaria de esquecer tudo que eu sofri e que ficou em mim como uma marca. Qualquer pessoa daquele passado me dói uma dor física.
O tempo passa e eu não consigo pensar em uma forma de fazer doer menos principalmente por ela. Não quero que ela sofra, não quero sofrer. Penso em alternativas e não chego a nenhuma conclusão. Vou abrir uma caderneta de poupança pra ela e quando ela tiver 18 anos mandar a senha pra ela gastar o dinheiro com o que quiser. Isso não me abona, não faz eu me sentir melhor, mas é uma ação, faz eu me sentir menos pior.