segunda-feira, novembro 10, 2014

Todos os dias eu penso: como sou uma madrinha má. Eu nunca estou presente apesar de todos os dias pensar nela. Eu não tenho paciência com crianças quando estou fora do meu horário de trabalho. Ouço barulho de criança quando estou longe da escola e a primeira coisa que vem na minha cabeça é: FUGIR! Eu sou Professora, acho que enquanto eu for professora eu não consigo conviver com crianças. É a herança que me ficou. 

Eu não consigo pensar em um gesto de aproximação e ternura com a minha afilhada. 
Ás vezes penso, ela poderia ter uma madrinha querida, paciente, doce, tudo o que eu não sou. Poderia ter uma madrinha presente, coisa que eu nunca vou conseguir ser. O que mais me dói é que ela não tem culpa. É uma criança. Eu sou culpada, eu gostaria de esquecer tudo que eu sofri e que ficou em mim como uma marca. Qualquer pessoa daquele passado me dói uma dor física.

O tempo passa e eu não consigo pensar em uma forma de fazer doer menos principalmente por ela. Não quero que ela sofra, não quero sofrer. Penso em alternativas e não chego a nenhuma conclusão. Vou abrir uma caderneta de poupança pra ela e quando ela tiver 18 anos mandar a senha pra ela gastar o dinheiro com o que quiser. Isso não me abona, não faz eu me sentir melhor, mas é uma ação, faz eu me sentir menos pior.