segunda-feira, dezembro 15, 2014

A liberdade de ser.

Quando você vai ficando mais velha vai entendendo melhor algumas coisas e passa a valorizar ainda mais a educação que teve. Sábado cortei o cabelo. Ficou bem curtinho mesmo, aí ontem tirei uma foto e pensei: - Como de menino, como eu sempre quis e nunca tive a coragem. 
Pode parecer uma coisa boba, fiquei pensando sobre isso: "Como de um menino..."

Voltei a minha infância, sou eu e mais dois irmãos (meninos), nossos pais podem ter errado em muitas coisas, mas também acertaram muito, nunca teve diferença na forma de criar os meninos e eu, principalmente por parte de meu pai... Meu Pai nunca me disse: - Mas você não pode, você é menina. Não deve sentar assim, não pode ir em tal lugar... etc... Nunca ouvi esse tipo de coisa do meu Pai. Para ele sempre fomos pessoas, nunca importou o sexo que nascemos. Isso foi tão bom, tão libertador, ser menina não é fácil, ser mulher não é fácil, no fim da minha infância as transformações que aconteceram em meu corpo marcaram minhas lembranças, eu odiei crescer, eu não estava preparada, eu queria ser criança a qualquer custo, não foi nada fácil pra mim ver que estava crescendo.
Eu nunca fui tratada como lady, como princesa, eu era a Gi e ser a Gi era ser livre. Eu podia querer cortar os cabelos, eu podia querer usar as roupas que quisesse, eu odiava maquiagem e usava camisetas gigantes pra esconder meu corpo, eu era feliz, só não era feliz na escola porque lá eu era tida como esquisita, as outras meninas da minha idade já eram preparadas para serem meninas, eu fui preparada para ser livre, para ser o que eu quisesse. 
A sociedade não vê pessoas assim com bons olhos, não aqui no Brasil. Se todos os pais criassem os seus filhos ensinando-os a serem antes de tudo boas pessoas, talvez houvesse menos preconceitos, mais educação, menos distinção entre sexos.
Agradeço muito aos meus pais, não sei se eles tinham noção disso, mas ser livre para ser uma pessoa, independente de ser homem ou mulher, da cor, da forma de seu corpo, da orientação sexual, etc... cria seres humanos melhores, com mais empatia, com sensibilidade para se colocar no lugar do outro. Essa liberdade que sempre tive não tem preço.
Posso ter sofrido muito por não ser entendida, mas eu sei o quanto ser livre me fez e me faz bem até hoje.