Meu pai vendeu a casa do Ipê. Como eu me senti e como me sinto? Desde que tenho uns 15 anos queria mudar de lá, sempre muito longe, sempre com esperanças de demorar menos pra chegar em casa, de não ter tanto medo de sair e de voltar. Minhas avós se foram, meu avô, meu pai nunca quis vender, falava ás vezes em ir pra Mogi, pra Bahia, pra Penha, mas sempre em um futuro tão distante que a esperança de sair de lá foi acabando e se eu quisesse sair, teria que ser sozinha ou casada. Sai de lá para Dublin, quando voltei, avisei meu pai de que não voltaria pra lá, não por eles, por causa do espaço, por causa do lugar, porque precisava de um lugar com espaço pra minha solidão, eu preciso disso. Voltei.Casei. E aqui estou. Morando perto deles mas em um lugar que consigo ás vezes ficar quieta, sem ouvir, sem falar, só.
Hoje me sinto feliz e triste, queria ter saído há mais tempo de lá, ao mesmo tempo vivi minha vida toda ali, com meus pais, meus irmãos, meus bichinhos. Lá ficaram todos eles. O Frank e o Nene não. Sei que meu pai não teve escolha, teve que sair, aconteceu tanta coisa ruim, descobrimos tantas coisas que talvez fosse melhor não ter descoberto nunca, dói e até hoje me sinto traída, enganada, enfim... mundo real, não o mundo idealizado e ingênuo que construí a vida inteira em minha cabeça. De uns cinco anos pra cá a vida tem me apresentado a vida como ela é. Eu continuo ingênua e sem acreditar no que é apresentado e continuo com vontade de ir embora e ter o mínimo de relações possíveis para me machucar menos com as atitudes das pessoas. A casa foi vendida. Não sei quando terei coragem de pegar o carro e passar por ali de novo e ver o que aconteceu com o lugar em que vivi minha vida toda. Espero que quem comprou faça bom uso e transforme em um lugar bonito, cheio de luz e coisas lindas. A vida é cheia de mudanças, cheia de rodeios, de nuances. Infelizmente as lembranças mais vivas não são muito boas, mas passamos bons momentos ali, principalmente quando éramos só nós...
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