quarta-feira, julho 27, 2016

Um dia inteiro sem ele

Chegar em casa sem ele foi uma das dores mais fortes que já senti. Ele era muito presente, falava o tempo todo, queria atenção o tempo todo, era um companheiro, eu entendia cada miado, cada conversa. Recebia a gente na porta do apartamento, a gente ouvia as unhas dele batendo no piso de madeira vindo correndo. Eu não quero mais a casa de transporte que comprei pra ele em 2004. Era dele, só dele. Peguei o pote de comida, lavei e guardei. Os copos do banheiro eu tirei e deixei só os da Lolla. Não consigo olhar pro cantinho do sofá onde ele ficava, virei a luminária verde pro outro lado e de madrugada não fui no banheiro nenhuma vez, toda vez que eu ia, eu dava uma olhadinha nele dormindo no sofá, se tava tudo bem, geralmente ele me via e miava como que dizendo Oi, eu voltava pro quarto e ele voltava a dormir. Éramos assim desde sempre, ele sofreu muito com minha viagem e fico feliz que foi possível vivermos juntos nos últimos três anos, nunca senti ele mais feliz do que nesse período que esteve aqui. Ele ficava impaciente se dava a hora de eu acordar e eu não acordava, invadia o quarto miando, eu ficava brava com ele, na segunda ele bem debilitado, me viu a noite sentada na cama e pediu pra subir, não conseguiu pular, eu coloquei ele em cima e ele se deitou sobre o meu braço. De alguma forma eu sabia que tava perto dele ir, mas a negação ou a esperança, não sei, é o que mais pega nessa hora, eu pensava que íamos ao veterinário na terça, ele tomaria uma injeção e reagiria, ficaria mais uns meses com a gente e partiria dormindo, sem dor. Fui pro quarto cinco da manhã da segunda e cochilei, tive medo de não aguentar ver ele partindo, tava muito sofrimento pra nós dois, Paulo acordou às 6. Vi quando ele levantou mas continuei deitada, demorou uns dois minutos ele voltou pro quarto, eu perguntei se tinha acontecido já desesperada, ele disse que sim. Daí o Paulo disse que ele ainda tava vivo, tinha se escondido atrás do sofá, fui peguei ele nos braços, ele miou, um miado dolorido mas me reconheceu, abracei ele, beijei ele, tão magrinho, tão frágil, um fio de vida nos meus braços, me senti mãe, não sou mãe de gente, mas acho que a sensação que eu tive com ele ali nos meus braços foi de ser mãe. Ele me olhou, ele ainda estava ali. Corremos para o Veterinário. Eu sabia que teria que tomar a decisão que tomei, não tinha outra coisa pra fazer pelo meu menino. Hoje doeu fisicamente, tive tremores, tive um desconforto no peito, uma coisa ruim, uma vontade de gritar, de sumir, tudo junto, de ficar pequenina até desaparecer. Tá doendo muito. Cheguei a cogitar hoje de pegar um filhote de gato só pra não sentir o que eu estou sentindo, me enganar, me ocupar de tudo que não fosse lembrar os últimos dias, ou o que poderia ter feito de diferente. Estou dilacerada por dentro, meu coração tá vazio e pesado. Ás vezes a tristeza me faz querer desenhar, tem a série que eu fiz triste pelo Frank, agora eu não consigo nada, não quero desenhar, não quero ouvir música, só queria entender como num momento eu tenho meu gato como sempre eu tive e no outro ele sumiu da minha vida e tenho que aprender a viver sem ele.
Hoje cheguei do trabalho e fiquei na internet tentando conseguir votos para o concurso do Spoleto, só assim consegui me distrair e esquecer um pouco dessa dor.
Enfim, um dia de cada vez. Muito amor, nunca estamos preparados para perder o amor, ele tinha câncer, o Veterinário disse que o câncer estava estabilizado, foram os rins que mataram ele. Eu nunca pensei que ele fosse ir por causa dos rins. Eu sei que não tinha jeito que ele tava perto de completar 17 anos, que ele viveu muito, que foi feliz, nada, nada disso faz a minha dor diminuir.






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