Eu sempre fui julgada e sempre doeu muito. Era uma menina diferente da maioria, era quieta, esquisita, na escola era julgada, na família também e assim foi a minha infância: triste e sozinha, se não fossem os livros, os desenhos, os gatos e os cachorros, talvez eu não tivesse conseguido chegar até aqui.
Depois tive uma adolescência menos pesada, sabia que era como eu era e que algumas poucas pessoas conseguiam gostar de mim como eu era, mesmo assim tentava me igualar, tentava ser um pouco mais "normal" e isso me feria muito. Fui me tornando uma adulta triste, sentida, ferida. Não era fácil. Os julgamentos muitas vezes me atingiam fundo. Comecei a namorar e demorei para me sentir segura em outra família, eu já era acostumada com a minha, que era como eu: esquisita. Me acostumar com uma família "normal" não foi fácil e nem difícil, foi natural. Achava bonito o jeito deles cuidarem uns dos outros, de se encontrarem nas datas comemorativas, de ligarem uns para os outros. Aprendi muito com eles, mas eu não era uma deles, por mais que estivesse ali e fosse tão bem tratada, eu continuava sendo a estranha, a esquisita.
Depois de muitos anos o namoro acabou, como tinha que ser. Uma etapa terminou, como tinha que ser.
Na minha ingenuidade, achei que fosse amada depois de tanto tempo fazendo parte de uma família, sendo madrinha de uma menininha, tendo passado por tantos momentos... Mas o conceito do que é amor muda de pessoa pra pessoa. O meu conceito de amor mudou com a ajuda do ex-namorado, ele me mostrou que o amor não prende, que o amor é livre, não sente ciúmes, que só de ver as pessoas que amamos felizes, nos tornamos felizes... precisei de 9 anos de namoro e um fim para entender o que ele sempre me dizia.
Hoje sou julgada, nenhuma vez passaram pelo que passei e nem desejo o que passei para ninguém, eu tinha que passar. Era eu. Se me fecho e fico quieta é porque é algo que muitas vezes nem acredito que esteja acontecendo (que eles que diziam me amar tanto, me culpam e não entendem que há coisas que mudam e não podem ser como eram antes do fim do namoro), não acredito que sou julgada por querer viver bem e esquecer um fracasso, sou julgada porque não consigo lidar com uma família que amei como se fosse a minha e que hoje me julga a cada pequena palavra, ou desenho que faço.
Me julgam por eu amar uma menininha que fui babá por quase um ano, vivendo na mesma casa que ela, educando ela na ausência de seus pais. Comparam o amor que sinto por uma menininha e por minha afilhada.
Eu serei Madrinha por toda a minha vida e eu sei como dói ser "esquecida" por uma madrinha. Eu nunca esqueci a minha afilhada, pelo contrário. Mas não posso ficar falando sobre isso, porque não somos só e eu ela. Tudo envolve uma família inteira, um ex-namorado e toda a novela que todos adoram ver.
Desenhar ela, já desenhei realista, já desenhei em tamanho real, já postei também, já escrevi publicamente no facebook para ela. Enfim, não há medidas para o amor. Amo as duas. Existe espaço para as duas no meu coração, só não existe espaço para mensagens que julgam a forma como me manifesto numa rede social. Aprendi com o meu pai uma coisa: silenciar.
O silêncio é a minha melhor resposta, se escrevo essas palavras é para não me engasgar com sentimentos que me lembram a época em que eu era julgada por seu eu mesma. A época em que tive que tentar ser outra pessoa para agradar todo mundo, menos eu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário